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Dia Mundial do Refugiado
19.jun.2020A data de 20 de junho foi estabelecida como Dia Mundial do Refugiado por uma resolução da ONU. Homenageia a coragem e resiliência das pessoas forçadas a deixar suas casas por motivo de guerra, perseguição ou conflito armado.
O que são “refugiados”, exatamente?
Segundo a ONU, refugiados são pessoas que escapam de conflitos armados ou perseguições em seu país, fugindo para algum outro.
São pessoas cuja situação é perigosa demais para permanecer em sua nação de origem. Necessitam cruzar fronteiras internacionais para buscar segurança em países próximos, onde passam a ser consideradas um “refugiado”. Esse é um status reconhecido internacionalmente, que gera assistência dos Estados, do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) e de outras organizações.
Venezuela, uma crise infindável
Há mais de 15 anos, a Venezuela habita o vocabulário cotidiano do Brasil. Geralmente, pela crítica às figuras de seus chefes de Estado. Seu socialismo centralizador com controle social por aparato militar suprimiu a troca de ideias e desacelerou a economia. Condenada por inúmeros governos, a nação sofreu sanções de comércio que geraram desabastecimento de recursos, inclusive alimentos. Parte da população não suportou.
Mais de de 260 mil venezuelanos que cruzaram a fronteira com o Brasil pediram regularização ao governo brasileiro. Até janeiro deste ano, 17 mil já tinham sido reconhecidos pelo Governo Federal como refugiados. Todos lutam por uma chance de conseguir recomeçar a vida, restabelecer condições dignas de vida, alimentar os filhos decentemente. Espalhando-se aos poucos pelo País, vários deles eventualmente chegaram a São Paulo. Graças à nossa parceria com o PARR, conhecemos dois deles de perto: Edgar e Richard.
A história de Edgar
Edgar saiu da Venezuela para fugir de “um governo muito ruim”, responsável por uma situação política e social bastante deteriorada. Escolheu o Brasil “por ter uma economia muito melhor” que a de outros países próximos. Ao chegar, foi cooptado pelos bolivianos que comandam pequenas tecelagens, frequentemente acusados de exigir trabalho em condições análogas à escravatura. Edgar viu-se obrigado a produzir por 12 horas diárias ou mais, mas não encontrou alternativa para começar a vida em São Paulo. Até que foi contratado pela Mandala.
Bem à vontade na nossa equipe, Edgar afirma: “minha vida mudou muito, porque eu posso trabalhar as horas certas dia. Agora eu posso ter mais descanso, trabalhando nas horas regulamentares”. A chegada ao Brasil foi um passo buscando um futuro melhor: “tenho o pensamento de trabalhar aqui para melhorar meu futuro, não somente para mim mas para a minha família, minha esposa e minha filha que estão aqui comigo”.
O filho mais velho de Edgar tem 20 anos e permaneceu na Venezuela. Mas sua esposa Luzdalis está aqui, cuidando da filha menor do casal, de 4 anos.
A história de Richard
Richard tem uma história difícil. Sofria com a escassez de comida e de serviços básicos, como água, luz e gás. Ficavam regularmente indisponíveis na Venezuela, por períodos que podiam chegar a quatro meses. Passava muita fome, e ainda por cima estava desempregado.
Uma irmã de Richard, já no Brasil, conseguiu trabalho para ele no mesmo esquema boliviano de Edgar. Acordava antes das seis da manhã e trabalhava até as nove da noite, folgando apenas aos domingos. Recebia apenas em dinheiro, sem benefícios, e com cobranças ilegais. Acabou sendo trazido à Mandala pelo Edgar, onde conseguiu o emprego de auxiliar de cozinha.
“Agora, tenho um trabalho fixo com carteira assinada, plano de saúde, tenho um cartão de vale transporte, tenho uma conta no banco, cartão de crédito, de débito. Antes, não tinha nada disso.”
Toda sua família já está no Brasil: a esposa, Maria Lourdes, e os filhos de 11, 13 e 15 anos. Aqui tiveram a quarta filha, a primeira brasileira nata, hoje com dois meses. Mas Richard deseja voltar à Venezuela, se o país “voltar a ser o mesmo país que era antes, um país democrático, né. Gostaria de voltar para o meu país, para junto da minha família, eu tenho minha casa lá.” E se tiver de permanecer no Brasil? “Trabalhar para dar uma boa educação para as minhas filhas, para que sejam mulheres de bem, com uma boa profissão. Que sempre tenham saúde. É isso o que eu desejaria para as minhas filhas: que tenham uma profissão, estudem e sejam alguém na vida.”
O que diferencia migrantes e refugiados?
Migrantes são pessoas que optam por buscar melhores condições de vida e trabalho em outros lugares. Não correm riscos à vida causados por questões políticas, e por isso não se enquadram como refugiados. Estão sujeitas ao grau de acolhimento e às políticas que cada país de destino estabelece.
Desastres naturais, entretanto, podem forçar migrações cujo acolhimento é tratado como “ajuda humanitária”. Que é definida como a ação destinada a salvar vidas, aliviar o sofrimento e manter a dignidade humana, durante e após uma crise desse tipo.
Desastre natural: o caso do Haiti
Imagine que seu País repentinamente deixa de funcionar. Imagine que uma catástrofe natural leve tudo ao colapso. Residências. Transportes. Abastecimento. Sistemas de saúde, de ensino e de informação.
Em 12 de janeiro de 2010, o Haiti passou exatamente por isso. Um terremoto de sete pontos na escala Richter devastou as principais cidades e colocou a nação de joelhos.
Um terço dos 10 milhões de habitantes do País vivia nas áreas mais afetadas pelas ondas de choque. Trinta mil edifícios comerciais e 250 mil residências foram inutilizadas. Além disso, o maior porto ficou inacessível, e o principal aeroporto, inoperante. As principais estradas, bloqueadas; serviços de comunicação, interrompidos. O desespero e a obliteração da infraestrutura tornou mais difícil que a ajuda chegasse de forma rápida.
Uma geração inteira de profissionais e jovens formados viu-se sem emprego, porque inúmeras empresas simplesmente deixaram de existir.
O contato com os brasileiros da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH) incentivou vários haitianos a optar pelo Brasil. Há um acordo migratório entre os dois países, permitindo aos recém-chegados obterem documentação para trabalhar e estudar. Muitos entraram por São Paulo, a 5.500 quilômetros de distância da capital Port-au-Prince. Foi o caso de Jean Daniel.
A história de Jean Daniel
No começo, Jean Daniel morou com um amigo: a única pessoa que ele conhecia no Brasil. Enquanto o amigo trabalhava, Jean cuidava da casa e buscava uma oportunidade de emprego. Depois que começou a trabalhar na Mandala, as coisas melhoraram. “Minha vida é melhor que antes porque agora eu tenho a possibilidade de comprar uma coisa, de comprar roupa.” Com o ensino médio concluído, Jean planeja fazer uma faculdade e iniciar uma carreira.
Após alguns meses, Jean começou a organizar a vinda da família. Conseguiu um empréstimo para parcelar a viagem de avião da esposa, Joane Esthére. O casal reuniu-se em São Paulo no começo deste ano. A filha de sete anos permanece no Haiti, cuidada por parentes, para futuramente ser trazida ao Brasil.
Para saber mais
A página principal do ACNUR possui um calendário de eventos virtuais vinculados ao Dia Mundial do Refugiado.
O portal G1 publicou um especial contando a vida de refugiados no Brasil.