Restrições alimentares e diagnóstico: uma introdução

É possível detectar restrições alimentares, tais como reações a determinados alimentos, desde muito cedo. Há muitas possibilidades envolvidas em cada diagnóstico, porém, e decidimos apresentar uma introdução breve a esse tema.

Com quais restrições devo me preocupar?

O conjunto de restrições alimentares com consequências moderadas a severas é bastante variado. Existe a doença celíaca, uma doença autoimune que afeta cerca de 2 milhões de brasileiros. Existem alergias alimentares, que são reações do corpo à ingestão de determinadas proteínas. Existem também intolerâncias alimentares: a falta de alguma enzima no corpo que impede que determinados alimentos sejam bem digeridos. Intolerância a lactose, a mais comum delas, afeta cerca de 40% da população brasileira. 

São, todas elas, condições difíceis de diagnosticar e que geram muita confusão no dia a dia. 

A ampliação do conhecimento público sobre sintomas e a melhora progressiva das técnicas de diagnóstico permitem que mais e mais pessoas investiguem a possibilidade de possuir restrições alimentares. A Mandala Comidas busca ajudar nesse processo, disseminando informação relevante à saúde de todos.

O que é alergia alimentar?

Alergia alimentar é uma reação exacerbada do nosso corpo a proteínas presentes em certos alimentos. Quando uma pessoa ingere o alimento à qual é alérgica, mesmo que em pequena quantidade, desencadeia uma reação adversa.

Noventa por cento das alergias alimentares tem como “gatilho” um destes alimentos:

• Leite;
• Ovo;
• Soja;
• Trigo;
• Amendoim;
• Oleaginosas (castanhas);
• Peixes;
• Crustáceos.

“Castanhas” é o termo popular para oleaginosas, que são vegetais ricos em óleo e envoltos em casca rígida. Castanha de caju, castanha do Brasil (também conhecida como castanha do Pará), nozes, avelãs, pistaches, pecãs, macadâmias, pinoli… todas essas são consideradas desencadeadoras de alergia.

A reação ao alérgeno pode acontecer imediatamente, mas pode demorar também: algumas reações acontecem em até 2 dias após o contato com o alérgeno. Em alguns casos, nem é preciso ingerir: basta sentir o cheiro ou tocar com a pele para que se desencadeie uma reação.

Reações comuns envolvem:

• Diarréia;
• Prisão de ventre;
• Vômitos;
• Irritabilidade;
• Perda de peso;
• Refluxo gástrico;
• Pele avermelhada (dermatite).

Contato prolongado com o alérgeno pode gerar otites de repetição e outros problemas respiratórios.

Algumas reações mais graves, que geralmente aparecem em até 2 horas, são edemas, inchaços, falta de ar e anafilaxia.

A anafilaxia, ou choque anafilático, é uma reação que afeta vários órgãos e sistemas do corpo ao mesmo tempo. Exige socorro imediato, pois pode ocasionar a morte. A adrenalina é a medicação mais comum para tratar o choque anafilático, e é comercializada na forma de caneta de adrenalina autoinjetável (Epi-Pen), cujo porte constante é recomendado para quem corre esse risco.

O que é intolerância alimentar?

É uma deficiência de enzimas no organismo que impede que a pessoa seja capaz de metabolizar determinados componentes dos alimentos, especialmente os açúcares.

Por não ser devidamente digerido, o açúcar vai se acumulando no estômago até um ponto de saturação. Nesse momento, desencadeiam-se desconfortos que variam de pessoa para pessoa. Os mais comuns são:

• Cólicas;
• Enxaqueca;
• Urticária;
• Náuseas
• Aftas;
•  Prisão de ventre;
• Inchaço pelo corpo;
• Dores abdominais.

O quadro abaixo busca facilitar a diferenciação entre alergia à proteína do leite de vaca (APLV) e intolerância a lactose (uma condição bem mais comum). Muita gente confunde as duas coisas, mas os sintomas e tratamentos são bem diferentes.

Fonte: Põe No Rótulo.

O que é doença celíaca?

A doença celíaca é uma doença autoimune desencadeada pela ingestão de glúten.

Glúten é uma proteína encontrada em alguns cereais usados como alimento, especialmente trigo, aveia e cevada.

A doença celíaca danifica o intestino delgado e atrapalha a absorção de nutrientes dos alimentos. Ela se desenvolve em pessoas com predisposição genética e aparece geralmente na infância (1 a 3 anos), mas pode aparecer mais tarde, em adultos. A doença pode estar presente em um ou mais membros da mesma família, mas não é uma doença contagiosa. 

Não há cura para a doença celíaca. Para evitar problemas em decorrência dela, é preciso haver uma grande mudança nos hábitos alimentares. Se o glúten não for retirado totalmente da dieta, complicações severas podem ocorrer. Uma vez diagnosticada, a pessoa precisa evitar a todo custo alimentos bastante comuns: pães, massas, bolos e pizzas. Feitos à base de farinha de trigo, que contém glúten, tornam-se um grande risco à saúde. Outros grãos, como malte e cevada, também contém glúten, o que torna proibitivo o consumo de quase todas as cervejas. 

Essa dieta, porém, só deve ser iniciada após o diagnóstico definitivo. Se iniciada antes, pode dificultar o reconhecimento da doença e até gerar um resultado incorreto (“falso negativo”) nos exames clínicos.

O diagnóstico envolve algumas etapas. Exames laboratoriais, como a busca por anticorpos antigliadina, antiendomísio e antitransglutaminase (que sugerem a presença de doença celíaca) são confiáveis mas insuficientes para o pleno diagnóstico. É necessária uma confirmação, por meio de biópsia do intestino delgado, que revela os danos associados à doença celíaca.

Os principais sintomas da doença celíaca são:

• Dor abdominal;
• Diarreia;
•  Flatulência;
•  Distensão do abdômen;
•  Fraqueza;
• Perda ou dificuldade para ganhar peso;
• Queda de cabelo frequente;
•  Lesões da pele;
• Anemia;
• Déficit de crescimento em crianças;
• Infertilidade.

O que é sensibilidade ao glúten não celíaca (SGNC)?

A SGNC (sensibilidade ao glúten não celíaca) é uma doença gastroenterológica com sintomas similares, mas não iguais, aos da doença celíaca. SGNC é a nova denominação para uma condição que, no passado, era conhecida como “intolerância ao glúten”.

Seu diagnóstico é complexo, feito por eliminação de outros males. Quando uma pessoa apresenta sintomas semelhantes aos da doença celíaca, mas não tem de fato essa doença, muitas vezes o que ela tem é a SGNC.

Ela não é uma reação alérgica e nem uma reação autoimune (como a doença celíaca). O quadro a seguir mostra uma comparação que pode facilitar o entendimento:

Fonte: Rio Sem Glúten.

Vale esclarecer que não existe “alergia ao glúten”. Existe alergia ao trigo (uma reação à proteína do trigo), doença celíaca, e sensibilidade ao glúten não celíaca.

A pessoa com SGNC que ingerir glúten sentirá reações como se o alimento não fosse “bem aceito” no processo de digestão. Embora sejam parecidos com sintomas da doença celíaca, na SGNC os mais comuns são:

• Dor e inchaço na barriga;
•  Excesso de gases;
• “Queimação” na garganta;
•  Vômito;
• Diarreia.

Quem devo procurar para saber se tenho restrições alimentares?

É importante ficar atento a qualquer mal-estar e buscar ajuda especializada para detectar o tipo de restrição alimentar você possui. Recomendamos procurar um gastroenterologista (ou gastropediatra, no caso de crianças) e um médico alergista com especialização em alergia alimentar. 

Infelizmente, a condição exata que aflige o paciente pode ser demorada para diagnosticar. Possivelmente será necessário anotar num caderno os sintomas que surjam ao longo do tempo (um “diário alimentar”), além de exames clínicos e consultas ao profissional de saúde escolhido.

Com a orientação correta, será possível criar uma dieta balanceada e sem riscos à saúde para atender à condição que for diagnosticada.

Para saber mais sobre restrições alimentares:

• Mergulhe na leitura que produzimos para escolas e professores, com informações relevantes para quem convive com alergias, intolerâncias e doença celíaca: https://info.mandalacomidas.com.br/guia-escola

• A Sociedade Brasileira de Alergia e Imunologia tem uma lista de perguntas e respostas introdutórias sobre alergia alimentar: http://asbai.org.br/alergia-alimentar-4/
• A Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil reuniu em seu site as dúvidas mais frequentes sobre doença celíaca: http://www.fenacelbra.com.br/fenacelbra/duvidas_frequentes/